Digitalização, para quê?
Pode parecer familiar a história de que, numa bela manhã, acordamos e decidimos que vamos entrar em forma. Vamos a uma loja (provavelmente online) e compramos nossos halteres, uma ou outra máquina ou possivelmente uma bicicleta. Entramos no YouTube, vemos tutoriais e compramos algum programa de treino para iniciar a rotina. No dia seguinte, já bem equipados, nos sentimos atléticos e, com nossa melhor música, começamos a executar o plano. No final do primeiro dia estamos orgulhosos, sentimos que somos atletas, que estamos a caminho de estar em forma e talvez, porque não, de nos inscrever em uma competição ou corrida local. Que sensação boa, não é mesmo? Aí o tempo passa e depois de alguns dias percebemos que não conseguimos dedicar o tempo necessário para ficar em forma, adiamos, não mudamos nossas rotinas, as máquinas param de funcionar, os halteres enferrujam, a assinatura ao programa ou software expira e voltamos a ser a mesma pessoa de quando começamos com “o projeto”. A moral da história é que a mudança é relativamente fácil, a parte difícil é manter a mudança.
O mesmo acontece nas organizações. Quando as empresas decidem “tornar-se digitais”, decidem mudar, compram seu hardware e software ou aplicativos e fazem um plano. Montam suas ferramentas de comunicação e gestão. E até treinam seus funcionários para se adaptarem às mudanças. Também podem, em algumas ocasiões, estabelecer processos e procedimentos. Estamos falando de uma transformação digital incipiente. Sua semente. Mas o que acontece depois?
Todos sabemos que digitalização não é o mesmo que transformação digital. E nos dois casos é fundamental pensar em gestão de mudanças, não apenas na transição. Quando decidimos ser uma empresa digitalizada, não estamos mudando a realidade, estamos mudando o cenário dessa realidade (assim como com nossos halteres e programas de condicionamento físico). A realidade é o dia a dia, a sustentabilidade ao longo do tempo e a viabilidade operacional. Todos esses aspectos estão sujeitos, ou pelo menos deveriam estar, ao plano geral de negócios, à missão e visão da empresa, à sua própria essência.
Todos sabemos que digitalização não é o mesmo que transformação digital. E nos dois casos é fundamental pensar em gestão de mudanças, não apenas na transição.
Para que uma mudança seja sustentável ao longo do tempo, além de hardware e software, devemos pensar em como vamos manter a mudança ao longo do tempo, para que ela se torne o novo padrão operacional e de gestão. Para isso é necessário:
Entender: Por que estamos começando uma mudança? O que aconteceria se não a fizéssemos? Definir em termos reais e quantificáveis o impacto da mudança ajuda a entender por que é necessário realizá-la.
Destino: Aonde queremos chegar? Se não soubermos para onde vamos, podemos acabar em qualquer lugar. Ter uma visão clara da nova situação e do novo padrão ajudará a definir o progresso e o sucesso.
Estratégia: A transformação digital (e sua versão original, a digitalização) não pode ser uma estratégia em si, deve apoiar uma estratégia existente que responda a essa essência da empresa que mencionamos.
Plano: Uma estratégia sem um plano de execução é um sonho. Nunca fará parte da realidade.
Trabalho: Ser fiel ao que foi planejado é essencial para acompanhar o progresso.
Medir e otimizar: Os ajustes são necessários e bons se visam melhorar os resultados.
Visibilidade: Os processos de digitalização e transformação digital normalmente envolvem toda a organização. É imprescindível que toda a organização esteja ciente do progresso e do impacto da mudança.
Sustentabilidade: Se a mudança não persistir ou se tornar o novo padrão, não fizemos realmente a mudança. Assim como nossos halteres e planos de treinamento, se tornará obsoleto e a situação (realidade) retornará ao que era antes de iniciarmos a jornada.
No entanto, é verdade que os processos de mudança geram incertezas. Especialmente se a pessoa não tem senso de propósito. Por que mudamos? Urgentes ou não urgentes, as mudanças são pensadas para gerar uma nova situação diferente da que temos. Nesse sentido, representam uma crise: uma situação instável entre duas situações estáveis. Por isso, é essencial saber qual é essa nova situação estável desejada, a nova realidade que queremos gerar com mudança. É aqui que o “para quê” ganha uma dimensão especial. No caso dos negócios, o “para quê” vem se transformando da cultura do benefício para a cultura do impacto. De ser centrado no cliente para ser centrado no cliente (sem nunca negligenciá-lo).
No mundo do marketing e da comunicação, o recente estudo da Deep Digital Journey realizado pela LLYC com a colaboração do ROI Marketing Institute revelou que existem duas grandes lacunas nas empresas:
1 – Falta de uma transformação digital voltada para o negócio e para a geração de valor.
2 – Falta de conhecimento aprofundado sobre as expectativas dos clientes e fatores relevantes em suas decisões de compra.
Essas duas lacunas revelam a falta de modelos de gestão com uma visão clara da transformação desejada (da mudança), bem como métricas relevantes para verificar se ela é alcançada. Também mostram a falta de visibilidade do verdadeiro impacto econômico e a presença de vieses no planejamento e na avaliação.
O “para quê” da digitalização é como a motivação para estar em forma. Se não tivermos clareza sobre o propósito, a imagem clara e quantificável de como queremos ser e, acima de tudo, como permanecer nesta nova realidade, os processos de transformação e mudança não acontecerão e estaremos apenas comprando máquinas e ferramentas que, mais cedo ou mais tarde, terminarão em obsolescência.
O “para quê” da digitalização é como a motivação para estar em forma. Se não tivermos clareza sobre o propósito, a imagem clara e quantificável de como queremos ser e, acima de tudo, como permanecer nesta nova realidade, os processos de transformação e mudança não acontecerão.