UNO Agosto 2013

A industria do esporte

07_2
A palavra esporte e a Espanha se dão muito bem. Guardam uma relação de afeto. Uma simbiose que melhora com o tempo e que se baseia na sua cumplicidade, quando olhamos qualquer lar. Numa interessante pesquisa realizada pelo Conselho Superior de Esportes e pelo CIS (Centro de Pesquisas Sociológicas), vimos que em 58% das residências espanholas há uma bicicleta de adulto, 57% tem uma bola, 48% um jogo de xadrez e 41%, por exemplo, uma raquete de tênis. São dados que nos convidam a fazer uma reflexão.

O orgulho que sentimos pelos nossos atletas está certificado pelo interesse do nosso país nesse setor, e tem como base uma população que cada vez mais se relaciona com o esporte na prática. 45% da população sentem muito orgulho e 41% se sente bastante orgulhosa. A grande maioria da população valoriza o esforço, o sacrifício, o sucesso, a simplicidade e a naturalidade de uma geração de jovens que conquistou sucesso nas suas respectivas modalidades no início do século XXI.

Na Espanha, surgiu uma indústria do esporte interessante, atrativa,  que postos de trabalho

Esse mimetismo cultural também está associado, na prática, ao tempo livre. Na Espanha, surgiu uma indústria do esporte interessante, atrativa, que postos de trabalho. O esporte gera empregos. Representa 2,5% do PIB do nosso país. É um segmento que se transformou em um motor econômico. Um setor no qual se formou uma dura concorrência para conquistar e abrigar eventos que servem para acelerar indiretamente a sua economia. A disputa pela organização de um dos Jogos Olímpicos é o paradigma do poder assumido pela indústria do esporte. Existe um antes e um depois em Barcelona depois da organização dos Jogos Olímpicos de 1992. A cidade se abriu para o mar, melhorou a sua infraestrutura e, principalmente, cresceu de forma intangível, com o grande poder de sedução que mantém o turismo na cidade durante o ano todo. Barcelona não é mais um destino de veraneio. Há turistas o ano todo. Não vive apenas do sol e da praia. No inverno também há muita vida. E os Jogos ajudaram a difundir o cartão postal de uma cidade para a vida toda.

07O esporte é um fenômeno social que transformou os clubes esportivos em multinacionais. São empresas que rendem milhões de euros –Espanha com o Real Madri e o FC Barcelona, lideram esse ranking europeu anualmente avaliado pelo Deloitte. E empresas que por meio da publicidade procuram patrocinar e melhorar a sua imagem corporativa por meio da sua presença nos clubes e em seleções de diferentes modalidades. O sucesso enriquece a energia. E também os seus valores. E a Espanha demonstra à sociedade o seu compromisso e solidariedade. Uma absoluta sinergia que a seleção espanhola de futebol, campeã na Copa do Mundo da África do Sul, desfruta atualmente. Uma vitória que lhe dá confiança de uma grande quantidade de empresas que esperam poder, algum dia, patrocinar a seleção. A imagem de Vicente del Bosque e os seus rapazes emocionou o planeta e da sua exposição nos meios de comunicação surge a confiança das marcas na seleção da Espanha.

A marca Espanha funciona. A marca Espanha vende. O consumo por meio da televisão se incrementa. E os jornais de esportes chegaram à tiragem de um milhão de exemplares para entregar aos fãs do gol de Andrés Iniesta na Copa do Mundo. A porcentagem de pessoas que assistem pela televisão os eventos esportivos de elite disparou nos últimos anos. Em 1990 representavam 20%, em 2010 essa porcentagem cresceu para 37%. 10% da nossa população assistem a quase todos os programas de informação esportiva.

Os grandes nomes levam o nome da Espanha para o mundo todo. Pau Gasol, Rafa Nadal, Fernando Alonso são gigantes. Mas também podemos estar satisfeitos com a grande quantidade de atletas que, com menor projeção nos meios de comunicação, treinam oito horas por dia nos Centros de Alto Desempenho que existem no nosso país. Em Madri, o residencial Blume, com treinadores reconhecidos, dirigem meninos e meninas que treinam em procura da harmonia. Sabem que o esporte não lhes garante uma aposentadoria milionária. Por isso, as estatísticas confirmam que são bons estudantes. Praticamente 100% deles passam no vestibular e ingressam na Universidade. Para eles, o seu modelo de vida está claro. Um clássico e veterano como Jesús Carballo, brilhante treinador das nossas ginastas, conta que antes de buscar uma medalha de ouro, as suas meninas buscam uma medalha de felicidade. Elas treinam durante jornadas de maratona, com rigor e disciplina, tendo a excelência como desafio.

A porcentagem de pessoas que assistem pela televisão os eventos esportivos de elite disparou nos últimos vinte anos

A Espanha sente orgulho das suas atletas mulheres. A lição que o basquete feminino nos deu em 2012, com a presença de dois clubes –Ros Casares e Rivas Ecópolis– na final da Liga Europeia, em Istambul, é louvável e possível. Na piscina, Mireia Belmonte nos demonstra em cada braçada a sua luta contra o cronômetro, enquanto sonha com os seus Jogos Olímpicos de Londres. São apenas duas breves amostras da garra das nossas meninas, às quais o CSD sempre apoiará ao máximo.

Ortega y Gasset nos deixou a etimologia da palavra esporte. Para o nosso grande filósofo, o nome vem de “estar de portu”, termo com o qual os marinheiros mediterrâneos identificavam as atividades recreativas que realizavam enquanto descansavam nos portos. Aquela maravilhosa acepção deu lugar a um esporte profissional, ao qual devemos apoiar, com os seus problemas e as suas incertezas, para termos campeonatos competitivos.

Miguel Cardenal
Presidente do Conselho Superior de Esportes
Presidente do Conselho Superior de Esportes da Espanha desde janeiro de 2012. Doutor em Direito pela Universidade de Navarra e Professor de Direito do Trabalho e de Seguridade Social. Até a sua nomeação, pertenceu a vários Conselhos editoriais e científicos de publicações e coleções de monografias, bem como ao Conselho de Direção da Associação Espanhola de Direito Esportivo. Desde a temporada 2004/2005, foi membro do Comitê de Competição da Federação Espanhola de Futebol (Real Federación Española de Fútbol) e da Liga de Futebol Profissional. Desde 2008, dirige a disciplina de Estudos e Pesquisa em Direito Esportivo da Universidade Rey Juan Carlos.@miguelamigueiro

Artigos publicados na UNO

Queremos colaborar com você

Qual o seu desafio?

Quer fazer parte da nossa equipe?

Quer que a LLYC participe do seu próximo evento?