A certeza mata a criatividade
Durante anos escutei e vi vários exemplos de como a indústria publicitária se apropriou do âmbito criativo do mundo. Entendendo que alguém que se considerava criativo devia terminar em uma agência de Publicidade ou o que é pior, pensar que nas agências de publicidade se encontrava o melhor talento criativo do mundo. A maneira em que empresas e clientes adotavam e aceitavam isto sempre me chamou a atenção. Como se a criatividade fosse propriedade da publicidade e trabalhar em uma agência publicitária te convertesse em uma pessoa criativa.
Não há nada menos criativo que crer-se mais criativo que outros por estar na indústria publicitária (nem em nenhuma outra indústria). Pertencer a uma indústria não dá o selo de criatividade a ninguém… À vezes vejo que alguns na indústria publicitária desvalorizaram a criatividade através de várias estratégias para rentabilizar o negócio de forma mais tangível e controlada, dando a criatividade de presente e seu poder de colocar o mundo na direção correta quando se faz bem..
Isto lentamente, em um momento onde a eficiência é o eixo central do presente e provavelmente do futuro em todos os níveis, desencadeou uma subvaloração criativa que desembocou em um êxodo de recursos específicos, localizado na indústria publicitária, a lugares praticamente inexplorados, somando valor. A pandemia simplesmente deixou em evidência esta realidade e o instinto de sobrevivência desencadeou a tempestade perfeita para ver a luz no final do caminho.
Pertencer a uma indústria não dá o selo de criatividade a ninguém…
Ao longo desta tempestade, a incerteza nos invade para justificar decisões estruturais e financeiras ocasionando que todas as indústrias se vejam hackeadas pela realidade.
Instaurar um conceito comum para justificar a realidade é muito tentador para indústrias cimentadas nas certezas e projeções de médio e longo prazo. Escutei várias conferências, webinars e oficinas onde a Incerteza é apresentada de forma negativa, preocupante e as soluções todas pensadas e enfocadas em como superá-la, aceitar e adaptar-nos, muitos destes conteúdos vêm da indústria publicitária.
Porém, este ano me invadiu a reflexão sobre como pode ser que as empresas com eixo criativo, onde a criatividade é parte de seu serviço, sintam e vendam a Incerteza dessa forma quando justamente são os publicitários e suas indústrias os que têm que adiantar-se à mudança, ao futuro e sugerir estratégias baseadas no futuro? Um futuro que por agora é incerto, mas que é imaginado e projetado todos os dias entre sonho e sonho.
A indústria criativa deve ser o farol e elaborar continuamente estratégias de como navegar estas águas. Livra-me das águas mansas que das más me livro eu. É uma obrigação da criatividade gerar a incerteza do futuro, questionando, criando e fazendo. É outra obrigação da criatividade visualizar todos os cenários possíveis dia a dia para ter o problema e a solução pensados na cabeça e na prática mil vezes.
A visualização é a técnica preferida para dissertantes, atletas e empresários para mitigar os nervos e imaginar a partida antes de jogá-la. É responsabilidade da criatividade imaginar essa partida de cada um de seus clientes, de cada um deles mesmos, de cada um de seus países, visualizar tudo. Somos isso, imaginadores e observadores. Vivamos no futuro e durmamos no presente.
A incorporação desta mentalidade, somada ao desenvolvimento tecnológico e o acesso a recursos nos converte em possíveis manipuladores de marionetes da realidade e pensadores do futuro.
Agora imagino o impacto que terá graças a tudo isso a complementação do conhecimento científico com o âmbito criativo. Estas mentes inquietas rodeadas de desafios de todo tipo complementando-se com metodologias e pensamentos científicos mais brilhantes, uma espécie de efervescência ininterrupta que me faz ver o futuro a cores e uma tela em branco com infinitas oportunidades. Se a isto agregamos o acesso ao Capital e a vontade de fazer um mundo melhor, sonho e visualizo um futuro cheio de acontecimentos maravilhosos onde a criatividade, o científico e o capital se coordenam para fazer um mundo melhor.
É uma obrigação da criatividade gerar a incerteza do futuro, questionando, criando e fazendo.
A criatividade e a ciência têm a obrigação, da mesma forma que sucedeu no século XV, de aproveitar estes mecenas e alcançar um renascimento tecnológico com eixo na humanidade e centro na natureza. Abraço o êxodo criativo a novas terras e com ele a melhor estratégia para colaborar, associar-se e melhorar a qualidade de vida de pessoas, equipes, organizações e países em geral.
Celebro ver antigos publicitários reconhecidos envolvidos em causas sociais e científicas como Rob Matters, Chacho Puebla e Paco Conde imaginando e fazendo o futuro próximo.
Se entendemos que a criatividade deve ser responsável pela exploração futura, se colaboramos com indústrias supostamente distantes ao tradicional e nos convencemos que tudo é possível, conseguiremos que a Incerteza desapareça.