A nova relação entre empresa e cidadania: o propósito compartilhado
O sonho da colaboração entre empresas e instituições públicas, começa a tornar-se realidade. No dia 3 de junho passado o Fórum Econômico Mundial1 (WEF) emitia um comunicado promovendo a ideia de um “grande reinício”, após o duro impacto econômico produzido pelo coronavírus. “Muitas empresas intensificaram as medidas para ajudar a seus trabalhadores, clientes e comunidades locais nos que constitui uma mudança na direção do tipo de capitalismo dos stakeholders. Para isso se requer um nível de cooperação e ambição sem precedentes, mas não é um sonho impossível”, sinalizava o WEF2.
Há uma década, o panorama empresarial está imerso em uma mudança de paradigma para fazer frente a grandes transformações, como a digital ou a chamada transição ecológica. Recentemente, os líderes empresariais emitiram declarações8 comprometendo-se a impulsar um novo modelo de gestão empresarial guiado por um propósito corporativo: uma perspectiva do impacto social a longo prazo das empresas, integradora das expectativas de seus grupos de interesse, capaz de inspirar à organização e de criar uma mensagem que transcende os conceitos de missão, visão e valores corporativos.
“A magnitude dos desafios aos está priorizando a capacidade de colaborar das empresas com as instituições públicas e acadêmicas para dar solução aos problemas globais”
A imprevisível e profunda crise provocada pelo coronavírus colocou os líderes possivelmente frente ao maior desafio econômico e social de toda sua vida. E está forçando a uma reflexão de urgência: é necessário redefinir o propósito?
Do propósito ao propósito compartilhado
A magnitude dos desafios aos que nos enfrentamos está priorizando a capacidade de colaborar das empresas com as instituições públicas e acadêmicas para dar solução aos problemas globais mais urgentes, começando pela proteção da saúde e do bem-estar, a recuperação econômica e a manutenção do emprego, consolidando os objetivos da luta contra a pobreza e a mudança climática.
Esta consciência de colaborar é a base para ampliar o propósito tal e como o conhecemos agora e levá-lo a um nível superior: o propósito compartilhado. O propósito compartilhado significa não somente o fato instrumental da colaboração entre diversas instituições e stakeholders com uma meta comum; significa, sobretudo, um olhar desde a empresa ao cidadão. O propósito compartilhado busca solucionar um problema específico da cidadania, não somente integrar as expectativas dos grupos de interesse da empresa.
Um bom exemplo de propósito compartilhado no âmbito da saúde e a luta contra a pobreza é o impulsado em 2018 pela Fundação Mundo Sano4 para acabar com a transmissão materno infantil da enfermidade de Chagas em 20305. Atualmente, este propósito colabora com os organismos técnicos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) ou a Organização Pan-americana da Saúde (OPS); e conta com o apoio de instituições públicas como a Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB); dos sistemas públicos de saúde de diversos países; de instituições acadêmicas, como a Universidade de Harvard; e de numerosos agentes vinculados com as enfermidades desatendidas, profissionais da saúde e associações de pacientes, entre outros.
“Esta consciência de colaborar é a base para ampliar o propósito tal e como o conhecemos agora e levá-lo a um nível superior: o propósito compartilhad”
como a Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB); dos sistemas públicos de saúde de diversos países; de instituições acadêmicas, como a Universidade de Harvard; e de numerosos agentes vinculados com as enfermidades desatendidas, profissionais da saúde e associações de pacientes, entre outros.
Tomando como referência o caso de Mundo Sano na luta contra o Chagas, identificamos quatro princípios ou características de um propósito compartilhado:
- É relevante. Aponta a uma necessidade social definida nas agendas globais a longo prazo, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável6 (ODS) das Nações Unidas. “Nenhum Bebê com Chagas em 2030” é um propósito compartilhado que está alinhado com as estratégias da OMS e da OPS. E aponta aos objetivos alcançáveis de saúde em 2030, tal como está previsto nos ODS.
- É alcançável. Adquire um compromisso moral e consegue mantê-lo no tempo porque o desafio é específico e é alcançável. Mundo Sano demonstrou que é possível conseguir que nenhum bebê nasça com Chagas em 2030 se se atua de forma coordenada no diagnóstico e tratamento das mulheres em idade fértil.
- É escalável. Se articula através de modelos de trabalho sustentáveis, replicáveis, escaláveis e transferíveis. A luta contra a Chagas pode ser um exemplo de como alterar a história de uma enfermidade assentada na resignação; e servir de modelo para outras enfermidades esquecidas e invisíveis.
- Está baseado em evidências científicas. Este é um dos princípios que desde seus inícios promove Mundo Sano e que recentemente foi ratificado pelas pesquisas do prêmio Nobel de Economia Michael Kremer7 em relação com a melhora da situação da pobreza, frente às soluções mais criativas.
Na direção da liderança ativista
Para poder articular um propósito compartilhado é necessário além disso uma liderança ativista, que inclui uma ação proativa contra a injustiça, somando esforços sem aceitar com resignação os problemas globais.
“Para poder articular um propósito compartilhado é necessário além disso uma liderança ativista”
Nestes dias vimos muitos exemplos deste tipo de liderança em todo o mundo. Na Espanha, uma multidão de empresários está oferecendo a melhor versão do líder ativista que, a pesar de todos os obstáculos, sempre oferece uma solução. E que entende que chegou a hora de tornar realidade o sonho de que todas as instituições e empresas colaborem através de um propósito compartilhado onde o cidadão está no centro.