Custo político e rentabilidade econômica e social
Muitos leitores de UNO provavelmente não conhecem Rex Tillerson. É o CEO da Exxon Mobil Corporation, uma das primeiras e mais rentáveis companhias de gás e petróleo do mundo, com um valor de mercado de 417 bilhões de dólares e operações de exploração e produção em todo o mundo. O próprio Sr. Tillerson fez jus ao ditado “NIMBY-Not in my Backyard” fevereiro passado quando se opôs, durante uma reunião de bairros no município de Texas onde reside, à instalação de uma torre de água cuja operação era relacionada com uma operação de extração de gás de xisto, um negócio que pesa muito no portfólio da Exxon. Uns anos atrás, na revista Fortune, Tillerson afirmava que enquanto em outros países suas operações eram bem recebidas por causa da contribuição para o desenvolvimento social e econômico, nos Estados Unidos enfrentavam uma oposição que dizia não entender.
Este fato reflete quão sensíveis são as relações comunitárias para as operadoras de gás, petróleo e outros recursos naturais. Também quão complexo é lidar com situações de microgestão e fragmentação na hora de obter autorizações administrativas, em que o custo político das decisões condiciona projetos com grande impacto no desenvolvimento de uma determinada comunidade. Mas deixando de lado este episódio, eu gostaria de ir um pouco mais além.
Em primeiro lugar, considerar o setor e a indústria em sua configuração mais ampla, dado que qualquer companhia que explora recursos naturais em qualquer de suas formas (sejam minerais, solar, eólica ou de outro tipo, sejam mais ou menos limpas, ecológicas ou não) tem uma incidência considerável no ambiente social em que atua, embora o seja em diferente escala. Não obstante, exige-se de todas elas o mesmo zelo na hora de manejar suas instalações, e muitas vezes – quase sempre – elas o superam amplamente.
Qualquer companhia que explora recursos naturais em qualquer de suas formas tem uma incidência considerável no ambiente social em que atua.
Com o passar dos anos, as empresas aprenderam a reconhecer nesta exigência uma vantagem competitiva a fim de projetar sua reputação no mercado, na hora de mostrar o valor de suas operações junto às autoridades e instituições. Na hora de exigir contraprestações lógicas e razoáveis pela sua contribuição para a sociedade e para a economia.
Muitas companhias decidiram – na hora de enfrentar o debate – apostar no interesse particular em detrimento do geral. Outras resolveram esconder-se atrás de uma indústria cuja firmeza na defesa de certos argumentos era fraca e pouco convincente, algo habitual em organismos empresariais onde a vontade geral funciona como contrapeso à determinação e a ação decidida.
Esta é uma maratona em que o planejamento em longo prazo tem retornos concretos e tangíveis.
Em segundo lugar, encontramo-nos com o dilema eterno na negociação com as autoridades políticas. Trata-se da pressão que exercem as empresas na hora de elevar o custo político na decisão, mas também da capacidade para detectar outros assuntos na agenda que possam ser usados como peça de intercâmbio.
Existe um debate aberto no mundo sobre as fronteiras do interesse público e do privado. A legitimidade do estado, na hora de defender o interesse geral e social dos cidadãos, choca com as companhias que defendem um modus operandi que almeja progresso social e econômico. Muitas vezes há territórios de encontro, razoáveis e sensatos, onde a oposição de pequenos grupos às vezes joga contra. Esse é o caminho a explorar e requer um entendimento das posições de ambas as partes. Igualmente requer pedagogia de um lado e do outro, algo ausente quando agimos com pressa e urgência.
Por último, e de forma complementar ao trabalho dos meios de comunicação como órgão de controle social de políticos e empresas, temos de lidar com a opinião pública. Se ontem eram as marchas e mobilizações, hoje são as redes sociais que agem como alarme ou amplificador das preocupações da população, tensionando, muitas vezes de forma irracional, o debate público e empurrando-a a agir de forma não desejada.
A casuística que enfrenta uma empresa de recursos naturais na hora de enfocar um projeto é complexa e variada. Não existe um manual de uso comum a se utilizar. O principal é entender detalhadamente as inquietações e posições de cada grupo de interesse (comunidades, governo, políticos, empregados) e saber equalizar adequadamente as necessidades de forma a termos um relato coerente e sem estridências, evitando um dano irreparável à nossa reputação.
Igualmente, a análise dos fatos deve ser objetiva e carente de estridências e emoções. O assessoramento externo facilita este trabalho, pois muitas vezes as companhias ou agentes políticos têm uma implicação desmedida em certos projetos que faz perder a visão racional das coisas. Tendemos a magnificar os acontecimentos ou a não levar em consideração situações que definitivamente supõem um ponto crítico no processo.
Por último, desejo assinar que esta é uma maratona em que o planejamento em longo prazo tem retornos concretos e tangíveis. Não se trata de cenários em que os recursos táticos de curto prazo ou a prestidigitação midiática nos permitam sair bem da situação. Às vezes teremos êxito na imagem recebida, mas nem tanto de reputação estabelecida.