Devemos nos reinventar na Internet?
Acontece sem prévio aviso. Um dia, você fica sabendo que presidente de uma conhecida companhia se pronunciou sobre uma questão de importância
no Twitter. Você visita a página e rapidamente comprova que o perfil é crível. Lê algumas frases. A redação, o tom, os temas se encaixam com o protagonista. Parece verossímil que tenha sido escrito por ele mesmo.
Ao mesmo tempo, sua caixa de entrada se enche de convites para se conectar ao LinkedIn, convites de conhecidos ou profissionais que criaram perfis e que enviaram mensagens a todos os seus contatos. Você sente a preguiça de quem só quer manter, quando não reduzir, as relações. Só me falta agora perder tempo de abrir o campo com o trabalho que tenho! Talvez em outro momento de sua trajetória, era consciente de que seu universo de relações deveria crescer. Agora, no entanto, não acha que o esforço valha a pena. E menos fazê-lo através de um currículo em um site.
O tablet e o celular se transformaram em uma janela pela qual você põe em jogo sua credibilidade pessoal e profissional
A insistência ou a categoria de alguma pessoa te leva a visitar sua página-CV. Você comprova que a descrição é muito completa. Presta atenção à foto, relativamente recente, no número de contatos e no novo cargo que ocupa e que desconhecia até o momento. Talvez tenha chegado o momento de pôr em dia o próprio CV.
Você recorre a seu entorno, comenta com amigos e companheiros de trabalho, e se dá conta de que outros fazem a mesma pergunta ou têm as mesmas reservas. Há defensores apaixonados e opositores medrosos a enfrentar com a transparência das redes. Mas o que parece claro é que, de um tempo a esta parte e quase sem que nos tenhamos dado conta, estas redes e suas ferramentas de comunicação mudaram as regras do jogo. O tablet e o celular se transformaram em uma janela que já não pode nem deve ser fechada, e pela qual entram as notícias, os convites, as convocações ou a infinidade de mensagens qu mesclam seus âmbitos privado e público. Uma janela pela qual você também se mostra ao mundo, e pela qual põe em jogo sua credibilidade pessoal e profissional. No entanto, enquanto alguns parecem lidar com agilidade com essa complexa realidade e conseguem que seus dados, mensagens, descrições e fotos sejam os adequados e coerentes, outros não são conscientes da importância que eles têm e assim mantêm fotos de má qualidade, informações antiquadas, cenários extravagantes, poses inadequadas. Definitivamente, uma descrição pública de si mesmo que não lhes representa e que, em muitas ocasiões, lhes presta um
mau favor. O momento da mudança
Cada vez somos mais conscientes de que devemos abordar estas mudanças, mas como e quando? Para os profissionais da comunicação e do marketing, resolver essas incógnitas pode se transformar em um fator diferencial e estratégico, ou em uma autêntica dor de cabeça. E o momento que vivemos não é fácil. Por um lado, os cidadãos tiraram sua confiança de boa parte das instituições que conhecemos, até o ponto que os mesmos funcionários superaram amplamente os
primeiros executivos em termos de credibilidade sobre as companhias que estes últimos dirigem!
Ao mesmo tempo, os meios impressos e audiovisuais clássicos sofrem uma reconversão de imensas proporções. A falta de modelos de negócio solventes lhes põem em uma situação inédita na qual se veem obrigados a reduzir o quadro de funcionários, formatos e a questionar o uso da autêntica matéria-prima de seu ofício: a informação. No meio deste movimento tectônico, são as companhias que começam a superar as notícias, e o mesmo acontece com apresentadores
em relação ao programa, surgindo um modelo que devolve o protagonismo ao indivíduo e que convive muito melhor com a essência coloquial direta, pessoa a pessoa, da Web.
No meio deste movimento tectônico, são as companhias que começam a superar as notícias, os apresentadores ao programa
Sobre estas bases, as empresas que querem posicionar nossas mensagens nos fóruns adequados, nos damos conta de que devemos lidar com um processo diferente, radicalmente inovador, com um imenso projeto para nossa profissão. Durante mais de cem anos, a dinâmica foi colocar a marca à frente, até mesmo das pessoas. Muito poucos profissionais estavam autorizados a falar e sempre o faziam dessa perspectiva corporativa dos porta-vozes: monótona, focada no diálogo, sucinta e de baixo perfil. O poder dos profissionais
Na atualidade, sem meios com capacidade de convocar em um só ato a audiência relevante; com a credibilidade da figura do porta-voz corporativo debilitada; e com mais necessidade do que nunca de concorrer em novos mercados nos quais, de partida, não contamos com o conhecimento ou a confiança dos que podem influir em nossos negócios, temos diante de nós uma alavanca estranha, mas que intuímos poderosa: o prestígio de nossos profissionais, sua capacidade de prescrição e a capilaridade e pertinência de seu alcance. A soma de suas identidades digitais se apresenta como um mecanismo de propagação e afiliação com um impacto que pode ser considerável.
É, portanto, o momento de vencer essa inércia que ainda afasta nossos colegas, companheiros e nós mesmos das plataformas digitais. Precisamos dar
o primeiro passo para perder o medo lógico do inovador, e nos convencer da superficialidade de muitos mitos catastróficos que cercam as redes. Em segundo lugar, necessitamos impulsionar os demais tirando sua obsessão pelo controle e os levando em direção à naturalidade, a moderação e o bom senso. Entre o “ninguém se mexe sem nossa autorização” e o “animem-se a participar e ser nós mesmos”, há todo um mundo.
Em paralelo, temos que identificar e decidir sobre questões que marcarão nossa personalidade digital. Os dois mais importantes afetam a decisão de quão pessoal ou profissional será nossa identidade nas redes, e quão oficial ou oficioso nosso modelo de comunicação.
Temos colaboradores que já podem ser líderes em uma determinada comunidade, que compartilham conteúdos sobre um assunto transcendente para nossa organização, e que querem não se identificar com o tom e as mensagens corporativas para conservar seu estilo de comunicação.
Provavelmente nessa decisão, em fomentá-la e respeitá-la, esteja grande parte da confiança e respeito que o resto dos membros dessa comunidade
depositam nele.
No lado contrário, temos líderes de nossas linhas de negócio que, apesar de estarem plenamente identificados com a companhia, se limitam a compartilhar
informações de caráter pessoal, por isso convocam uma audiência fundamentalmente formada por amigos e parentes sem a mínima transcendência
empresarial.
Às companhias globais não resta outro remédio a não ser colocar as pessoas de nossa organização no centro de nossa estratégia de comunicação, e fazê-lo em um entorno “social”
Ambas as posições respondem a diferentes maneiras de combinar estes fatores e a diferentes graus na proposição de suas identidades. Sua escolha condiciona mais tarde a forma na qual a comunicação pode apresentar mais ou menos valor à estratégia da empresa.
É um caminho que devemos transitar. Ajudará-nos a nos conectar mais com o entorno. Obrigará-nos a nos renovar. Porá-nos à altura de nossas conquistas
em outros âmbitos e nos diferenciará porque nos permitirá contar e que seja contada uma história múltipla, mais veraz, dinâmica e emocionante.
E, sobretudo, compartilhá-la e sentir que os demais a compartilham.
Agora bem, como todos os desafios que as organizações ambiciosas enfrentam, serão consumidos recursos, levará tempo, nos conduzirá a alguns becos sem saída, nos despistará às vezes, e outras vezes, nos desiludirá, mas aprenderemos com os erros. Mas para as companhias globais, internacionalizadas, inovadoras e com uma diversificação crescente, não resta outro remédio a não ser colocar as pessoas de nossa organização, com suas identidades pessoais e profissionais, no centro de nossa estratégia de comunicação, e fazê-lo em um entorno “social” que não é uma previsão de futuro, mas uma realidade a cada dia mais assentada.