UNO Agosto 2013

A arquitetura de 2020

arquitectura2020
Estamos perto, muito perto, talvez como nunca antes, apesar dos dois baldes de água fria anteriores, alguns deles quando já acariciávamos com a ponta dos dedos a nomeação.

Mas a fé, a perseverança, o otimismo e o convencimento de que somos uma grande cidade, apoiada por uma grande nação, não nos fez desistir. E vamos conseguir. Os Jogos Olímpicos de 2020 serão realizados em Madrid. E lamentamos muito pelas nossas admiradas Tóquio e Istambul. Uma já teve a sua chance e a outra certamente terá o seu momento.

Mas a minha missão, além de ter me atrevido como madrileño a sonhar com um desejo de quase todos os espanhóis, é falar de arquitetura, tanto daquela já realizada, como aquela que deve ser preparada para “matar o jogo”.

Devemos agir com moderação e austeridade, bom senso e eficiência, pensando no futuro da cidade e no bem-estar das gerações futuras

Tivemos a visão de começar a trabalhar com muita antecipação, talvez até demais para alguns, mas hoje esta circunstância é uma das nossas maiores vantagens. Nestes momentos de incerteza global, contar já com um programa muito desenvolvido e com uma elevada porcentagem das infraestruturas já prontas joga a nosso favor. Além disso, existe uma abordagem simples, solvente, austera, sem exagerar e com os pés no chão. Já não devemos construir caras infraestruturas de uso futuro incerto, nem cometeremos os erros do passado ao projetar complexos faraônicos idealizados por “arruinadoras” e, em muitos casos, astros mundiais da arquitetura.

Devemos agir com moderação e austeridade, bom senso e eficiência, tendo em vista não só os 30 dias olímpicos, mas o futuro da cidade e o bem-estar das gerações futuras.

laarquitecutra2020fullMadrid já conta com várias instalações que poderiam sediar o evento. A maioria dos locais necessários já estão construídos: a Vila Olímpica, o estádio Santiago Bernabéu e o La Peineta, o ginásio esportivo, o complexo da Caja Mágica, El Retiro, Las Ventas, Madrid Arena, os pavilhões de IFEMA… Talvez o nosso desafio não seja mudar uma cidade de forma tão dramática quanto foi feito em Barcelona ao se abrir ao mar para os Jogos de 1992 –Madrid já planejou ou realizou nos últimos anos, grandes operações urbanísticas como o enterro do rodoanel da M-30, o projeto Madrid Rio, a Operação Chamartin, etc.– mas ainda deverão ser finalizadas áreas importantes da cidade que agora estão inacabadas, como o entorno do estádio de La Peineta, as instalações aquáticas, a Vila Olímpica, etc.

Também deveremos atualizar a capital com novas infraestruturas hoteleiras, algumas das quais não são coisa do futuro, mas sim uma autêntica realidade. Este é o caso do Complexo Canalejas Madrid Centro, que acolherá o novo hotel de super luxo Four Seasons, cujo projeto temos o orgulho e privilégio de assinar como arquitetos.

Uma nomeação olímpica é uma oportunidade única na história. Apenas um punhado de cidades no mundo inteiro tiveram ou terão a sorte de serem escolhidas. E como já aconteceu na história com outros eventos culturais e sociais, tais como exposições universais ou de menor escala, o evento pode mudar o curso de qualquer cidade. Em quase todos os casos, houve um antes e um depois.

Pela sua qualidade arquitetônica, pelo seu compromisso com a arte e a cultura, pela sua história e por seus habitantes, Madrid merece ser olímpica. Nossa cidade é um dos destinos turísticos mais importantes do mundo. É um dos principais centros de congressos, uma cidade de primeira linha. E, acima de tudo, conta com uma importante bagagem esportiva, por ser o berço e lar do melhor clube de futebol da história –e não, não digo isto cego pelo meu reconhecido “madridismo”, herdado do meu pai, que hoje disfruta de seu status como “senador Branco” ao estar entre os cem sócios mais antigos do Real Madrid, mas para o que isso significa para a eleição da nossa cidade como Vila Olímpica–.

Pela sua qualidade arquitetônica, seu compromisso com a arte e a cultura, a sua história e os seus habitantes, Madrid merece ser olímpica

Os Jogos Olímpicos modernos nasceram em 1896, apenas seis anos antes da fundação do nosso querido clube (o Real Madrid), e por muitos anos, até após a Segunda Guerra Mundial, o futebol era um dos esportes estrela, e o Real Madrid um dos clubes que mais jogadores deu ao Olimpismo espanhol: Antuérpia 1920, Paris 1924, Roma 1934. Depois, o profissionalismo –tradicionalmente excluído do esporte olímpico até relativamente poucos anos– e o estabelecimento da Copa do Mundo de Futebol em 1930, fez decair o “esporte rei” na arena olímpica. Mas o Real Madrid deverá aportar o seu maravilhoso Estádio Santiago Bernabéu a este grande acontecimento. E será uma circunstância extraordinária, já que nesse momento será sem dúvida um dos melhores estádios do mundo, pois já estará finalizada a grande obra que o atual presidente Florentino Perez quer empreender e em cujo concurso de ideias arquitetônicas e de exploração econômica –neste momento em desenvolvimento– temos o privilégio de participar, formando uma equipe com Populous, nossos parceiros e líderes mundiais de arquitetura para eventos esportivos, e autores de inúmeros estádios como o novo Wembley ou o Estádio Olímpico em Londres.

Ao querido Atlético de Madrid lhe corresponderá o estádio de La Peineta, que após os Jogos Olímpicos será convertido em espaço exclusivo para futebol, e que também vai estar entre os melhores e mais modernos da Europa.

O futuro é nosso. Madrid, 2020.

Carlos Lamela
Arquiteto
Arquiteto formado pela Escola Técnica Superior de Arquitetura de Madrid (ETSAM), na turma de 1981. Presidente Executivo do Estudio Lamela, fundada por seu pai Antonio. Entre as últimas obras mais importantes de seu Estúdio, destacam-se a ampliação e remodelação do Estádio Santiago Bernabéu, a cidade Real Madrid, o terminal 4 do Aeroporto de Madrid-Barajas, Expansão do Aeroporto Gran Canaria, do Contact Center do Banco Santander no México, o Parque Empresarial Expo Zaragoza, o Aeroporto de Varsóvia, o novo Estádio da Cracóvia, as novas sedes da John Deere, Caja Badajoz e do Banco Sohar, em Omã, e o próximo projeto Canalejas Madrid Centro, com o novo Hotel Four Seasons.

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