As transnacionais se nutrem da bibliografia empresarial
A teoria da simbiogênese que tenta descrever o surgimento da diversidade biológica é atraente por várias razões, uma das quais é que coloca a cooperação entre diferentes organismos no centro do processo evolutivo, em oposição à “lei do mais forte”. Por analogia, a Alta Direção das empresas com interesses nos mercados de fala hispano-portuguesa deveriam se utilizar desta “cooperação biológica”, que incentiva ao empreendedor (entrepeneur) quando inicia um projeto em qualquer latitude do mundo.
Vamos passo a passo. Ao estudar a bibliografia, vemos que a principal ferramenta de exercício é um bom diagnóstico da situação para conhecer o mercado, entender as regras políticas atuais e conhecer o contexto em que o seu produto ou serviço se desenvolverá. Em um cenário onde a China acelera sua transformação política, Cuba normaliza suas relações com o exílio, a Alemanha pede a Europa mudar de rumo e Argentina compartilha sua visão regional com o Brasil, se aproximam anos tão criativos quanto conflitivos. Nesse sentido, uma análise da situação elaborada por especialistas é o primeiro passo seguro para qualquer empresa.
A análise da situação elaborada por especialistas é o primeiro passo seguro para qualquer empresa
O segundo é um plano de negócios. Ao nível institucional seria ter um roteiro, ou seja, um documento que identifique, descreva e analise uma oportunidade detectada, avalie a viabilidade técnica e política, e desenvolva as estratégias necessárias para transformar a oportunidade em negócio concreto. Esta etapa é fundamental para o planejamento do “mapa a conquistar”. Portas adentro, a elaboração deste documento permite que os impulsores reflitam sobre a sua ideia inicial, deem forma a ela e a estruturem com coerência econômica, política e jurídica. Os principais erros incorridos nesta fase estão ligados à falta de mensuração (métricas endógenas e exógenas), subestimação dos issues da crise e sobrevalorização da ideia original do plano.
Em busca de financiamento.
Capilaridade das relações
Um empresário depois de ter uma visão clara do contexto e ter elaborado seu plano de negócios, sai em busca de mentores e Anjos de capital (business angels). Tudo através de redes pré-existentes. No âmbito do nosso trabalho, seria a capilaridade das relações. Ou seja, ajuda, alianças e negociações concedidos pelos diferentes atores sociais para desenvolver o roteiro estabelecido. As instituições financeiras oferecem crédito e empréstimos enquanto os diplomatas ou facilitadores de relações criam oportunidades e consertam situações impensáveis com a arte da conversa e as boas maneiras.
Em seguida aparecerá –na cena do empreendedor– a constituição da empresa propriamente dita. Levado ao campo das relações institucionais seria o tipo de parceria que se pretende estabelecer e o posicionamento da marca para tal propósito.
Agora bem, esses códigos em geral são as primeiras orientações do empresário antes de começar um novo caminho com seus desafios e recompensas. Mas o ponto mais importante é o conceito de valor compartilhado. A visão de sustentabilidade deve estar presente desde a origem para dar força ao projeto e, eventualmente, proporcionar um ambiente de franco desenvolvimento onde todos ganham.
O ecossistema famoso
O empreendedor entende claramente que deve incentivar e contribuir com o ecossistema no qual ele mesmo cresceu. Esta solidariedade é parte fundamental do sistema de valores que apoia e incentiva o empreendedorismo como um movimento. De sua história pessoal na qual ele foi recebendo ajuda, entende que é também responsável por promover essa “cooperação biológica” para gerar o impacto positivo do desenvolvimento das pessoas em um determinado ambiente (conhecimento, emprego, inovação, riqueza distribuída, contribuições e impostos) .
A cultura empreendedora, definida pelos elementos do ecossistema, é o melhor mecanismo para gerar prosperidade que no fim do ciclo conflui no que já se entende por “licença social”. Em outras palavras, é o apoio dos stakeholders ou partes interessadas para a execução de um projeto.
A cultura empreendedora é o melhor mecanismo para a geração de prosperidade
A licença social é geralmente um estado concedido por diferentes públicos para desenvolver o projeto. A licença é dinâmica, já que a opinião das pessoas costumam mudar ao longo do tempo. Em outras palavras, as percepções dos grupos de interesse é um dos componentes mais sensíveis para obter a licença social. O projeto deve ser considerado legítimo pelas comunidades e uma vez alcançada esta legitimidade, tanto a empresa quanto o projeto e seus funcionários devem construir credibilidade e confiança.
Em resumo, em um complexo contexto mundial se impõe a visão do empreendedor onde o valor compartilhado tem uma relação estreita com a sustentabilidade, a licença social e a “cooperação biológica”, no lugar da imposição da lei do mais forte como pensava o próprio Darwin.