UNO Agosto 2013

Propriedade, boa governança e reputação

10_2A adesão e o exercício das boas práticas de governança corporativa são fontes de reputação para as empresas. Se encaixam na esfera de atributos “brandos” da reputação, aqueles que se sustentam de princípios como cidadania ou têm títulos como o de melhor lugar para trabalhar, e contrastam com atributos “duros”, conduzidos pelo rendimento financeiro ou pela competitividade em produtos e serviços. Tudo isto, de acordo com as sete dimensões estabelecidas pelo Reputation Institute e aceitas globalmente pelo mercado.

Não obstante, a governança societária responsável está conquistando alguns atributos duros. Assim, múltiplos estudos acadêmicos constatam que a eleição de valores que primam pela boa governança estão à frente daqueles que não o fazem, permitindo obter melhores resultados quanto à rentabilidade e retorno sobre o investimento, se apostarmos em quesitos como valores ou índices. Esta passou a ser uma prática habitual de alguns governos e analistas, que incorporaram estes critérios em seus modelos, apesar dos preços tardarem a reconhecer algumas das virtudes citadas.

A adesão e o exercício das boas práticas de governança corporativa são fontes de reputação para as empresas

O feudalismo corporativo percorreu a história e hoje muitas empresas, e não necessariamente aquelas com altos níveis de free float, decidiram optar por uma governança responsável da sociedade, comprometendo-se com todos e cada um dos acionistas, sem privilegiar as posições de controle ou os interesses de algum grupo, algo especialmente louvável quando um acionista concentra mais de 50% dos títulos de propriedade e, portanto, teria todo o direito –a priori– de comandar a sociedade segundo seu critério, sem submeter-se à opinião do resto da junta.

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Como nas sociedades avançadas, que optam por democracias participativas em que a política se coloca a serviço do cidadão, as empresas parecem ter tomado o mesmo rumo. Cada vez que se ouve falar mais dos acionistas, o entendimento é de que sua participação é essencial para o decorrer da sociedade e pode ser referendada ou questionar o trabalho dos gestores.

Além disso, as comunidades virtuais –em expansão com a explosão da web 2.0 e impulsionadas pelas mídias sociais– oferecem um cenário alternativo às Juntas de Acionistas. Nelas é possível trocar opiniões ou propor atuações. É o terreno onde os acionistas são entusiastas seguidores de uma empresa ou ativistas críticos da gestão. Do mesmo modo que governantes não podem viver de costas para a realidade, os conselheiros de administração e gestores devem ser necessariamente sensíveis a estas correntes de opinião.

O sentido da propriedade mudou, reformulando-o para um conceito de propriedade responsável onde os gestores e acionistas devem encontrar seu lugar para um melhor interesse da empresa.

Muito foi discutido sobre se os duros centros acionários eram uma vantagem ou um obstáculo para as companhias em suas estratégias de criação de valor para os acionistas. De um lado, opiniões que muitas vezes resultavam em debates éticos sobre o direito dos acionistas de exercer o controle ainda que não contassem com pacote majoritário e significativo de capital. Do outro lado, estavam aqueles que defendiam a adoção da estabilidade à sociedade, garantindo a sustentabilidade de seu modelo de gestão e afastando os perigos em forma de instabilidade acionária, fruto da volatilidade e outros caprichos do mercado.

Algumas vozes condenavam este tipo de prática. Diziam que era algo como conduzir um carro com todos no volante. Outros mais críticos encontravam neste tipo de prática uma blindagem recíproca de acionistas interessados e gestores complacentes que ofereciam uma política de “pão e circo” aos investidores que apostavam seus esforços confiando em um retorno razoável e onde, ao final do caminho, não havia valor algum.

As comunidades virtuais oferecem um cenário alternativo às Juntas de Acionistas

A Lei de Sociedade de Capital espanhola possibilitou a associação de acionistas em cada sociedade “para o exercício de seus direitos e a melhor defesa de seus interesses comuns”. Este marco normativo nasceu como resposta a uma demanda de mercado e se embasou na existência de figuras como o Núcleo Estável de Minoritários, mas também nos Comitês Consultivos de Acionistas. Este cooperativismo de acionistas minoritários propicia um equilíbrio adequado de poderes, facilitando a interlocução da sociedade e seus gestores com grupos relevantes.

Por outro lado, os investimentos institucionais também podem ocupar um papel importante em contextos onde a propriedade está dispersa ou concentrada, e que implicariam ação por parte do regulador o dos próprios acionistas. Por exemplo: na Austrália existe uma Associação de Fundos de Pensão que desenvolve investigação sobre as práticas de governança em empresas e oferece assessoramento na hora de delegar o voto. Em outros mercados, como no Chile, se habilita Fundos Titulares de Participação para que possam nomear conselheiros independentes em sociedades de investimento.

Devemos fazer os acionistas partícipes, minoritários ou não, de nossa vida societária. Nosso resposta como empresa deve responder às perguntas, e o que é mais importante, convidá-los a participar

O acionista institucional entende e reconhece a existência de uma relação estreita entre a governança corporativa que promove a eficácia e a eficiência na gestão, e sua capacidade para influir em assuntos mais amplos, como estimular a ação em questões sociais ou ambientais. Esta capacidade de atuação também está determinada pela estrutura de incentivos que regem a indústria de fundos de investimento (sejam alternativas ou não), e pela capacidade que têm de antecipar critérios frente aos outros.

A reputação é fruto de uma relação profunda e de uma comunicação fluida com todos os stakeholders. Este vínculo se estabelece através de um diálogo onde podemos entender suas expectativas, graças a sistemas de escutas precisos e sistemáticos. Oferecendo respostas claras às inquietações e trabalhando com isto pelo bem da sociedade. Os acionistas, minoritários ou não, são parte deste grupo, e a eles, e agora mais que nunca, é preciso fazê-los partícipes de nossa vida societária. Nosso resposta como empresa deve responder às perguntas, e o que é mais importante, convidá-los a participar.

Juan Rivera
Sócio e Diretor Geral da LLORENTE & CUENCA no México
Sócio e Diretor Geral da LLORENTE & CUENCA no México. Em seus quase 20 anos de experiência profissional assessorou mais de 120 empresas em estratégias de comunicação corporativa e financeira, em processos de fusão ou aquisição, entrada na Bolsa de Valores ou reestruturações societárias. Juan iniciou sua carreira profissional na IBM e ocupou diversas posições em uma multinacional americana na área de consultoria de comunicação. Antes de sua incorporação, foi Diretor de Comunicação e Assuntos Corporativos em uma entidade financeira. É graduado em Comunicação e completou seus estudos com um programa em Comunicação Empresarial e outro em Administração e Direção de Empresas pelo IESE. @jriverallyc

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