Equador: Um exemplo da nova tendência turística Latino-americana
Quando já tenhamos visitado os monumentos, as igrejas, os chafarizes, os museus e as galerias de arte das grandes metrópoles e quando, fugindo do barulho mundano, procuremos o descanso confortante no Hyde Park de Londres, o Central Park de Nova Iorque e os Bosques de Bologna em Paris, sentimos que chegou o momento de direcionar nossas ilusões a novos rumos onde a natureza vive em seu máximo esplendor, aí então vale à pena ir à América Latina e nela, a países “joia”, como o Equador.
Ali, a mínimas distâncias, descobrimos mudanças dramáticas: depois de uma ou duas horas de viagem podemos passar das paisagens andinas cheias de nevadas e picos de mais de 6.000 metros de altura, às selvas que abrigam uma fabulosa biodiversidade, praias solitárias de quilômetros de extensão e mares dos quais surgem, em esplêndidos saltos, baleias jubaretes e arraias. É difícil dizer o que pode ser visto naquele único Arquipélago de Galápagos, onde os animais não conhecem o medo ao homem, um verdadeiro símbolo vivo de paz. A isso são somadas as expressões culturais das comunidades indígenas que vivem em ecossistemas muito diversificados e, portanto, desenvolveram culturas diferentes, onde a música e a gastronomia têm personalidade e forma diferente.
O povo equatoriano apoiou uma nova Constituição que traz duas novidades: o princípio da boa vida e a defesa legal da Natureza quando se atente contra ela
Mas, no fundo, o que chama a atenção é a atitude das novas gerações de equatorianos que encontram valores em elementos que outros povos menosprezam. Essa tendência ficou em evidência há alguns anos, quando o Estado equatoriano não aceitou a ingerência estrangeira para transformar as Ilhas Galápagos em base militar. Fez melhor, resolveu declarar 97% deste território como Parque Nacional, restringir a migração de equatorianos às ilhas, proteger a Área Marinha criando a segunda maior Reserva Marinha do planeta e limitar o desenvolvimento turístico congelando a capacidade das embarcações turísticas que operam no Arquipélago. Isso permitiu que 95% de todas as espécies que jamais existiram ainda sejam preservadas em Galápagos.
Nos últimos anos, esse desejo de cuidar do patrimônio natural que o Equador tem cresceu de forma evidente. Assim, o povo equatoriano apoiou uma nova Constituição que traz, entre muitas outras, duas novidades importantes.
A primeira é colocar como objetivo do Estado não o crescimento desmedido da economia, o consumismo e a especulação, mas sim o princípio da boa vida. Em outras palavras, buscar o crescimento econômico com o objetivo de permitir que todos os habitantes vivam com dignidade, reduzindo, simultaneamente, as desigualdades sociais. Também, buscar proteger as demais formas de vida (da qual o Equador é um empório, pois é a região do planeta que, proporcional ao seu tamanho, tem a maior diversidade de vida na Terra) com uma importância semelhante à vida do ser humano.
A segunda, dá à Natureza (assim, com letra maiúscula), personalidade jurídica sujeita a direitos e, por tanto, suscetível de ser defendida legalmente quando se atente contra ela.
E embora falte muito para que esses princípios estejam plenamente vigentes, começa a apresentar sinais que indicam que o Equador segue nessa direção: o Governo, em um ato sem precedentes e com o apoio de mais de 60% da população, resolveu deixar em baixo da terra 20% do petróleo que se encontra no subsolo do Parque Nacional Yasuní, que é a área mais biodiversa da Amazônia sul-americana. O Governo procura a solidariedade mundial para receber 50% do valor fornecido e investi-lo na mudança da matriz energética (que para 2016 será 98% renovável), proteger os 40 Parques Nacionais continentais que cobrem um quinto do território equatoriano, e procurar opções econômicas sustentáveis para as comunidades que moram em áreas de influência das áreas protegidas.
As comunidades indígenas que se opõem a que sejam feitas novas explorações petrolíferas e minerais no país
Outro sinal claro é a oposição das comunidades indígenas a que sejam feitas novas explorações petrolíferas e minerais no país. Esse movimento, é cada vez mais transcendente e tem uma capacidade de mobilização imensa, como foi demonstrado na última marcha indígena que atravessou todo o país para dizer ao Governo que eles não estavam de acordo com a ideia de seguir ferindo a Pachamama para explorar os recursos não renováveis.
Se essa nova ética se impõe no Equador e em outros países latino-americanos, poderá ser conservada uma imensa riqueza natural, que não somente será apreciada como fonte de substâncias medicinais valiosas, mas também como o último destino turístico, que como em Galápagos, conservará toda a vida que já não é encontrada no resto do Planeta. E se isso é assim, o viajante que tenha a sorte de visitar essa região, voltará com o tesouro de uma experiência gravado na sua alma.