UNO Dezembro 2013

O Estado de Bem-estar, um bem sustentável?

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Garantem especialistas que estamos diante de uma das maiores crises das últimas décadas. Assim é como a percebem os cidadãos e é assim como a notamos também os empresários. Alguns vivemos crise setoriais profundas, outros crises em determinados mercados ou centradas em algum país, mas nenhuma das vividas nos últimos tempos foi tão global e profunda como esta.

A envergadura da atual recessão global é tão grande que, pela primeira vez, nos vimos obrigados a cogitar mudanças estruturais e conceituais nos modelos de funcionamento, tanto empresariais como sociais.

Um deles –e um dos mais polêmicos e de mais teor social– é o debate sobre o Estado de Bem-estar. Ou, melhor dito, sobre como tramitá-lo e se ele pode ser mantido –e até quais níveis–.

A universalidade da proteção social, especialmente no âmbito da saúde, deveria ser um marco intocável no qual não nos podemos permitir dar nem um passo atrás

Em uma situação como a que vivemos, é normal que apareçam vozes questionando todo o cenário atual: o modelo, as estruturas sociais, os sistemas de organização, os direitos, os deveres… Mas poucas delas apresentam opções sólidas sobre como continuar mantendo este bem tão prezado como é a proteção social.

03Não é um tema superficial: modificar ou reduzir o Estado de Bem-estar atual significa criar um modelo de sociedade totalmente diferente do atual, com valores e normas de convivência totalmente diferentes dos atuais. A universalidade da proteção social, especialmente no âmbito da saúde, deveria ser um marco intocável no qual não nos podemos permitir dar nem um passo atrás.

Não é, porém, um debate simples. A ninguém foge que o conceito Estado de Bem-estar foi evoluindo com o tempo, do mesmo modo que foram evoluindo os conceitos de saúde e de bem-estar. Mas aquilo que é realmente irrenunciável deve depender exclusivamente de uma situação econômica ou é necessário aproveitar a atual conjuntura para apresentar um debate sério e profundo sobre o que o Estado de Bem-estar, independentemente do momento econômico, deve e o que não deve cobrir?

Quantas vezes ouvimos que as gerações de jovens atuais serão as primeiras que terão uma situação pior que a de seus pais! Já o assimilamos, mas seria inaceitável que tivéssemos que assumir também que não poderão desfrutar do mesmo Estado de Bem-estar, ou proteção social, que as gerações anteriores.

No caso da Saúde, um dos pilares do Estado de Bem-estar, além disso, as inovações são cada vez mais rápidas e eficazes. As descobertas biomédicas se sucedem a cada dia em uma velocidade vertiginosa. Não só nos dão mais saúde, mas além disso a tornam mais acessível. E, no entanto, não fomos capazes de criar as estruturas necessárias para assumí-las e incorporá-las em nossa sociedade de forma eficiente. A abordagem genética das doenças é um exemplo claro. Não podemos impôr barreiras a esta evolução, porque o conhecimento é global. As empresas da área de saúde assumiram esta globalidade e estão cada vez mais internacionalizadas.

É necessário introduzir reformas profundas que apresentem eficiência para que se continue a desfrutar de uma cobertura universal e duradoura no tempo

É um processo imparável e irrenunciável. O que nos devolve à questão sobre a sustentabilidade do Estado de Bem-estar.

Para torná-lo sustentável é necessário modificar o sistema, introduzir reformas profundas que apresentem eficiência como passo imprescindível para continuar desfrutando de uma cobertura universal e duradoura no tempo.

Não há nada mais antissocial –ainda mais em situações como a atual– que manter ineficiências nos sistemas e, por esse motivo, devemos introduzir todas as mudanças necessárias para manter o status de proteção social atual.

As empresas de saúde temos um papel muito importante a desempenhar nesse âmbito. Devemos estar ao lado da Administração –se nos deixarem– para propor fórmulas de colaboração e de gestão que façam o sistema global mais eficiente, liberando recursos mal utilizados e alocando os existentes no que é realmente necessário.

Existem várias experiências que ajudaram a melhorar a sustentabilidade de modelos de saúde e devemos aprender com elas. Um país tão reticente às mudanças bruscas como o Reino Unido, por exemplo, introduziu no National Health Service formas pioneiras de parceria público-privada com grandes resultados.

É o caminho a seguir também em nosso país, mas para isso é preciso liderança e linhas de atuação claras e firmeza no momento de aplicá-las… além de capacidade para comunicar as mudanças e seus benefícios.

Albert Sumarroca
Diretor geral da LABCO Iberia
Formado em Biologia pela Universidade de Barcelona, é diretor-geral da LABCO Iberia, a filial espanhola da LABCO Quality Diagnostics, rede europeia de serviços e gestão de laboratórios clínicos e de anatomia patológica, da qual é conselheiro. Anteriormente, foi conselheiro-gerente de General Lab SA, entre outros. Além disso, é membro da Junta Direção da Unió Catalana d’Hospitals e membro da Junta Direção de MC Mutual.

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